O dia amanheceu com as rosas orvalhas
de um pûs vindo do antigo do céu da boca
- inchando palavras pra doerem o suficiente a que não sejam úteis
e num rubro profundo, sangra o intenso revertendo tudo
e pra dentro, o úmido lá fora explicando-se, entre mundos,
descobertos de proteção e uma angústia de viver tentando não arrepender-se,
ah deus, mesmo que mude, é tão forte que não há luta, e eu já não entendo meus passos;
sou cega de uma razão alheia tateando meu escuro
um tanto de luz
um tanto de vento
e tudo o que posso, tenho
concentrado numa bolha efêmera, num amanhecer de cristal
por nunca ter dormido, permaneço de olhos abertos, de poros escancarados
e ao frio da chuva, uma desproteção tentando esquecer que existe a palavra abrigo.
''(...) Pudesse eu um dia escrever uma espécie de tratado sobre a culpa. Como descrevê-la, aquela que é irremissível, a que não se pode corrigir? Quando a sinto, ela é até fisicamente constrangedora: um punho fechando o peito, abaixo do pescoço: e aí está ela, a culpa. A culpa? O erro, o pecado. Então o mundo passa a não ter refúgio possível. Aonde se vá e carrega-se a cruz pesada, de que não se pode falar.
Se se falar - ela não será compreendida. Alguns dirão - "mas todo o mundo..." como forma de consolo. Outros negarão simplesmente que houve culpa. E os que entenderem abaixarão a cabeça também culpada. Ah, quisera eu ser dos que entram numa igreja, aceitam a penitência e saem mais livres. Mas não sou dos que se libertam. A culpa em mim é algo tão vasto e enraizado que o melhor ainda é aprender a viver com ela, mesmo que tire o sabor do menor alimento: tudo sabe mesmo de longe a cinzas. (...)"
''Todas as horas ferem, até que a última põe um fim...''
quarta-feira, 24 de março de 2010
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