Por isso que eu lhe digo, que a intensidade do que sinto já não é mais proporcional a uma vida preescrita mesmo nas entrelinhas; é uma descoberta como um bólido caindo na terra, abrindo crateras que parecem já conhecidas, mas tem uma calidez que me reforçam algo infinito, que não sei explicar - é como se esse pedaço de céu pudesse dizer tudo, num segundo que não se conta - se vive.
E é assim que minha vida vai se comunhando; entre o córrego que espera passar pelas suas vias permitidas e as fendas que vai abrindo - um espaço perfeito para minhas veias. Um espaço tão perfeito que parece mentira. Tão alinhadamente simétrico que duvida-se de sanidade quando está se falando de vida, assim puramente; soletrando com coragem perante a própria fraqueza.
Aquele trabalho árduo diante da dor; aquilo que não é trabalho, mas é a força para construir e cada dias mais saber ruir; é aprender a ceder no choro, rasgar os dentes de fome num sorriso... algo que não sei mais escrever porque marcas assim primitivas não sabem descrever um celeste que não meço, e que quase me faz desaparecer por tão etéreo que é.
Tudo o que me machuca é de um puro tão essencial, que qualquer vanidade se descarta da minha importância; um amor que não se mede não se prende na corrente estúpida e inválida das corrosões doentias de um passo em falso. Eu caio sim muitas vezes, esperando o ombro que não está lá, e que eu guardei lugar debaixo de tempestades, mediante um canteiro que reguei com espesso gozo ou sofrido lamentar, em forma de seiva pra aquilo que acredito.
Porque eu acredito mesmo sem forças; pois não é uma metodologia ou um pedido de eterno retorno; é uma espessura de entrega em constante descoberta assim que abre a boca para degustar ou para gritar ao caos que pare e me responda o que é o mundo (mas ainda não está formado!). Eu estou no chão, esperando ainda com palavras secas, do ventre tão profundamente vívido por lembranças que são sinestesias ricas na mesma vaguidão de um banco que da praça se foi (e nos mantêm lá, petrificados com a condensação de um tempo que não arranca pedaços), ou do limiar de luz escorrendo na folha da grama molhada... (por uma celestial chuva que já poupou estrelas, mas me trouxe teus olhos.)
Uma inspiração que não termina quando eu paro de respirar os ares que amo.
Porque eu sou a árvore e o fruto é inevitável.
Eu esparramada na terra, doendo com as raízes procurando espaço que não é pra ser imemorial, é só pra ser transpassado; simples como entregue - numa vivência que é.
Uma cura que não chega quando não tenho doenças, quando não julgo atos como erros, quando meu sentir não é lógico pensar e medidas não aprazem mudanças do que não chegou com prazo de validade - mas me valida enquanto eu posso.
E ainda que eu não saiba, meus limites sempre explodiram quando pude chegar; mesmo com lábios tremulando-me as piores notícias que poderiam sintetizar; eu sei o quanto aquelas cores de lábios impressionaram meu peito, jorraram tinta de minhas mãos, enfeitaram meu peito nos dentes como a cor das pétalas que carrego, e chegam perto do meu peito e deslizam naquela garganta, uma voz que muda me estremece - e um conhecimento que o coração não precisa transpassar literalmente, mas um pulsar entende o seu eco; no abismo escuro de dentro;
um encontro.
E eu me encontro com meus precipícios, eu sinto a dor das feridas, eu vivo o mundo com a minha aprendizagem vertendo noções de um membro antigo de mim que não condecora razões plausíveis, mas é sonoramente excêntrico e perambula sorrateiro, na pequenitude que a grandeza das coisas simples faz surgir por aí... Não há um porto, um rio, uma casa, um lugar que fale tanto quanto essa paragem que a lembrança não historiou coroando o tempo como responsável; mas me tornou aquilo que não poderia ser de outra forma, quando a verdade se pôs cruamente nítida no próprio assumir covarde da grandeza que não é heróica e dói no peito que se entrega, sem que se responda apenas uma canção épica.
Assim como Fernando Pessoa disse que sua tristeza era natural e justa, eu compreendo essa correnteza doendo na ponta dos dedos, fechando o vazio entre as mãos e figurando nos olhos uma transparente imagem que as águas tornam reais e correntes - uma fluidez para respirar o rosto no espelho - para eu me anunciar todos os dias, eu vou viver o símbolo de minha coragem sem decorar princípios, já que a liberdade é um gosto frágil como último dizer mediante o mergulho no precicípio; mas o meu melhor é fatal. E já não tenho mais palavras ou verdades para demonstrar senão daquilo que me projeta cada dia e sempre mais...
muito mais que uma soma, uma divisão que a vida não fatia com o tempo; mas sustenta incomensuravelmente em cada partícula que faz aquela biografia transcrever minha vida apenas dizendo: ''um pequeno infinito em expansão''.
E a minha contraditoriedade vai responder suspirando esse amor, sem medo de afastar meus horizontes, porque eu acredito no que cativa-se, pertence sem sacrifícios; tudo o que posso viver é inseguro, e sabemos que a proteção nas vias precisa correr riscos pra aprender a se proteger; eu afio a faca para apontar o meu destino; eu não me escondo de minhas feridas; essa língua desastrada não se humilha lambendo feridas - e o que eu tenho é parte do que vivi, jamais se suspende por outra vista, e não luto contra.
Eu escreví um dia:
''Pois não é da ferida que tenho medo, mas da dor que me deixa cada vez mais rigidamente fraca pra interpretar o que sinto, e então minhas aberturas serão avalanches do desgosto.''
você leu isso no meu livro...
e em seguida:
''Mas não. Me colocarei à prova para descobrir o que me orienta quando preciso, e nas veias que fervilharem o sangue, eu irei acreditar.''
E é JUSTO:
''Reduzida à pó, mas infiltrada no lar em que queria,
afinal, o movimento explica a forma,
e minha apatia não enjaula medos, mas sim,
acorrenta minha coragem de te dizer que sou feliz.''
A grandeza desse todo supera os níveis de constatar uma felicidade, porque de tão aguda ela apela para o desespero - e de abrir todos meus poros, meu corpo já exortou a matéria.
E sem controle meus pensamentos são sentimentos, que voam todo dia,
e desfalecem nas suas possibilidades - do que até o impossível cria em nós.
Hoje eu tenho medo sim,
mas é porque há uma coragem florescendo num tempo estranho.
Mas a vista do céu é um horizonte tênue, sem parágrafo de início,
e nem previsão pra terminar.
Não posso abortar a minha vida, numa cria que é rasteira como um lençol d'água,
que fertiliza na própria angústia o meu mundo soberano em seu dom de existir, sem engano.
''Todas as horas ferem, até que a última põe um fim...''
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
''O quanto eu te falei...''
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