''Todas as horas ferem, até que a última põe um fim...''

quinta-feira, 3 de junho de 2010

muita verdade a pouco chão

“Brotaram flores nos meus pés. E o quotidiano na minha vida complicou-se."
(Hilda Hilst)
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cai a matéria bruta e o espaço de esfera entre o céu e a terra
prossegue sendo o vasto vão entre a verdade e a vivência
que se isola do controle do que pensa pra se sentir em poro comum,
ao respirar é que se inspira.

pois tanto é que na verdade pura o pouco chão responde que
enquanto se respira a atmosfera crua já sente doer a falta
nos nervos da mão que podem ser o mundo,
mas a chuva na janela ali dita a forma lá de fora (uma deformidade lenta)
e há um medo da coragem escondida nos pequenos atos*,
os dedos se sentem como pequenos nós de laços, o corpo de resguardo se alimenta;
quando os olhos estão fechados:

brotam os sonhos desses cílios que são os pêlos de todos os bichos,
o sangue quente da mais nua e selvagem profundidade - no branco desses olhos
que vem junto com o negro tempestuoso do tempo;

vem a lua minguando de tuas unhas,
e vem o sono acalmando teus lábios,
projetando fino e irreal o momento de tempo pra plenitude que se contempla
e complementa o ritmo da fala com um suspiro doce e único,

do único que não responde palavras e cala como ama
porque nada há de mais puro que se oferte e que essa latência atribua.

nem mágoa, nem rancor, tampouco ódio; o avesso vem assim que
há um receber sublime, acima do corte, da ferida, da dor;
o poder de viver acima dos títulos e das levianiedades da terra, pois
já que o chão é pouco, a verdade liberta (pra o que se sente) muito mais.

*resta ainda, como disse vinicius...

e eu pra você: reign over me.